Não ter tempo é diferente de não ter oportunidade
03/01/2015, às 10h56Por Pedro Reiz Centro de Treinamento e Formação e Editora Hyria
O propósito do pesquisador
ao preparar manuscrito a ser submetido a um periódico é o de informar à comunidade científica quais as contribuições[1] da sua pesquisa. A essência do relato normalmente cabe ao autor[2] principal. Desse modo, demonstra não só domínio na área de
atuação como também das técnicas de redação científica.
Assim, é hora dos pesquisadores
comprometidos com o progresso da ciência, a educação em vários âmbitos e o desenvolvimento do país mobilizarem-se para a implantação de mecanismos
favoráveis à divulgação, estudo e prática de técnicas de redação científica facilmente
assimiláveis.
Não se pode continuar a esconder
sob o véu “da falta de tempo” e outros argumentos insípidos, o conhecimento parcial
das técnicas de redação científica para legitimar crenças e práticas não
aceitas em nosso meio, como a de “outros” escreverem para “aqueles que não têm
tempo”. Não ter tempo é diferente de não
ter oportunidade.
Ora, essa prática deve ser
repudiada. Por exemplo, nos Estados Unidos é possível adquirir armas de fogo
livremente em lojas de departamentos, o que está de acordo com as leis do país, uma vez que reflete conceitos, valores e crenças dos estadunidenses. Contudo, no Brasil, a compra desse
indesejável instrumento pode ser realizada apenas legalmente e sob certas
condições.
Consideradas as proporções, o
exemplo acima tem o propósito de tão-somente identificar o disparate de alegar
“falta de tempo”, entre outras "desculpas inteligentes" como justificativas aos
conhecimentos básicos das técnicas de redação científica. As práticas de
redação científica são constantemente atualizadas, portanto, é necessário
dedicação, interesse, disposição e vontade para se manter informado e atualizado,
afora praticá-las. O pesquisador, ao aprimorar plenamente as habilidades em
redação científica, adquire diversos outros recursos para aplicar nas
diferentes seções de um artigo, por exemplo. A aquisição de competência plena em
redação científica está disponível a todos os interessados. Não há o que temer!
Tanto na apresentação de TCC ou
monografia quanto na defesa de dissertação ou tese, guardadas as
necessárias extensões, esses trabalhos acadêmico-científicos devem ser guiados
pelos mesmos propósitos éticos e de comprometimento com os envolvidos na preparação da pesquisa (estudantes ou pesquisadores, professores orientadores,
bancas examinadoras, instituições de ensino, órgãos de fomento à pesquisa, MEC
e função social).
Se a redação do relato não é
produzida pelo pesquisador responsável pela pesquisa científica, afetam-se diretamente os
demais pesquisadores, a comunidade científica e o público em geral. É
preferível ler artigos e outros textos científicos preparados pelo próprio
pesquisador, ainda que não estejam impecáveis e elegantes em detrimento de textos bem
trabalhados e produzidos por ”outros”. A comunicação científica será do
“outro”, não do pesquisador! Que isso fique bem claro! Redação de artigo requer
também criatividade. De nada adianta ser fluente em inglês, coletar material, ter os dados em mão, contudo, sem ter as habilidades para relatá-la e até depender de “outros” para “montar” as tais teses infundadas.
Corre-se ainda outro risco!
Alguns praticantes de redação científica, que a "realizam" apenas nas horas vagas,
pois são remunerados para outras atividades, insistem em
rejeitar as regras[3] acadêmico-científicas,
mas se esquecem de que nos sites dos periódicos constam diretrizes
de submissão de artigos científicos. Essas são regras que não podem ser
alteradas, uma vez que os artigos submetidos àquele periódico, depois de lidos,
apenas passarão pelas demais etapas se atenderem às regras elencadas pelos
comitês editoriais.
[1]
Esperam-se conhecimentos novos e relevantes.
[2]
Alguns comitês editoriais solicitam a indicação da contribuição de cada um dos
autores.
[3]
Apesar de não serem prescritivas, é evidente que se gera certa expectativa para
o produtor do texto e, consequentemente para o consumidor ao se deparar com
nova publicação, que pode ou não ser selecionada para leitura.